fica Vivo galera!!!
notas de rodapé
Há, decerto, um punhado de sentidos a que remetem o termo "ruído". Seja em sua acepção mais simples, relacionada à ideia de barulho, ou à mais sofisticada, que se lê como um desvio no processo de comunicação, pode-se dizer que a ideia de ruído sempre fez parte da história do Festival Eletronika, cuja 10ª edição tem início no próximo sábado, em conjunto com o Vivio art.mov, ocupando vários espaços do Palácio das Artes com atrações de campos como a música, o audiovisual e as artes visuais.
Responsável, desde 1999, por trazer a Belo Horizonte tendências comportamentais e atrações musicais desconhecidas por grande parte da população, o festival chega à sua próxima edição em companhia do Vivo art.mov, um dos seus principais rebentos na cidade, e apresenta como tema "Ruído de Fronteira", assumindo de vez a sua vocação provocadora, híbrida e, sobretudo, inovadora.
"Sempre buscamos oferecer à cidade atrações que, se dependesse de outros contextos, provavelmente não passariam por aqui. Mesmo diante de outros tempos, em que tudo circula com mais facilidade, essa missão continua no DNA do festival", sintetiza o músico e produtor Marcos Boffa, um dos responsáveis pela seleção de boa parte das atrações do evento, desde a sua estreia.
No que se refere ao line-up desta edição, Boffa conta dar continuidade àquilo que tem feito ao longo dos últimos anos: apresentar um panorama do que tem acontecido de mais interessante nas Américas, considerando tanto o corte eletrônico do festival quanto a diversidade de artistas e estilos que, nos dias atuais, têm se apropriado de elementos tecnológicos em seu fazer artístico.
"Neste ano, temos, além de vários criadores brasileiros, artistas do Canadá (Rich Alcoin), do México (Nortec), do Chile (Surtek) e dos Estados Unidos (Kisses, Glasser e The Hood Internet). Há espaço, é claro, para algumas exceções, como os ingleses do Ladytron, que são um dos headliners do festival, além de um artista grego (Novi-sad), que representa, aliás, um país extremamente emblemático nos dias de hoje", exemplifica o músico, lançando um olhar geopolítico sobre as atrações que se apresentam, ao longo de duas noites, no Foyer e no Grande Teatro do Palácio das Artes.
Diante da primeira noite de shows, no dia 18, Boffa identifica duas tendências distintas. "De um lado, temos Nortec e Surtek, que releem seus ritmos regionais a partir de uma musicalidade eletrônica. De outro, Glasser e SP Underground seguem uma linha mais experimental, bastante influenciada pelas cenas de Los Angeles e Chicago", descreve.
A segunda noite, por sua vez, é apresentada pelo músico como promessa de uma grande festa, seja no Grande Teatro ou no Foyer. "Enquanto Kisses e Ladytron devem apresentar um rock que flerta com o dance, o que teremos fora do teatro, com Rich Alcoin e The Hood Internet pode ser descrito como o núcleo mashup da programação. Aqueles que viram o show do Alcoin, inclusive, dizem que ele tem uma performance muito contagiante, fazendo chover em qualquer botequim", brinca.
Art.mov. Como bom filho que à casa torna, o Vivo art.mov tem, em suas edições mais recentes, se aproximado progressivamente do Eletronika, evento cujos debates e atividades lhe deram origem, em 2006. Na visão de Lucas Bambozzi, idealizador do art.mov e um dos diretores artísticos da 10ª edição do Eletronika, ainda que cada festival tenha suas particularidades, é o interesse pelo audiovisual e por experiências urbanas criativas que se aponta como afinidade entre eles.
"É nesse tipo de pensamento que o Eletronika se encontra com o art.mov, dado que a ideia de renovar essa cultura urbana está presente tanto na música quanto nas mídias móveis", analisa Bambozzi, que enxerga nos trabalhos audiovisuais e instalativos que completam a programação do evento uma visão bastante expandida da ideia de ruído.
"Tratamos, ali, de ruídos na comunicação, sempre intrínsecos, algumas vezes indesejáveis, e outras, cruciais. Fomos buscar, no ruído, um efeito colateral que se apresenta como valor estético e valor de enunciação", sintetiza o diretor.
10ª edição
19 atrações musicais integram a programação, entre brasileiros e estrangeiros
AUDIOVISUAL
Mostra apresenta formas alternativas de produção
"Bright Light" é um dos vídeos selecionados por Rodrigo Minelli
Foi também a partir do tema "Ruídos de Fronteira" que o artista e curador Rodrigo Minelli realizou a seleção do generoso conjunto de vídeos que, entre 12 e 20 de novembro, serão exibidos no Cine Humberto Mauro.
"Seja no audiovisual ou na música, a ideia de ruído acaba definindo uma certa estética. Se pegamos o audiovisual produzido para mídias móveis, por exemplo, ele carrega uma imagem suja, mas que pode ser explorada como recurso de linguagem e dialogar com vanguardas e formas alternativas de produção audiovisual, diferenciando-se, por exemplo, do cinema de alta qualidade", analisa Minelli.
No que se refere à seleção de vídeos que integram a programação do Vivo art.mov, o curador destaca duas vertentes de produção.
"Buscamos tanto exemplos históricos quanto contemporâneos dessas maneiras de se pensar e produzir cinema. Algumas das sessões, por exemplo, trazem filmes do George Kuchar, um pioneiro em produções menos sofisticadas e mais ligadas ao cotidiano. Outras se dedicam ao registro de sonoridades urbanas, criadas sem instrumentos, em diálogo com o que se conhece como música concreta", adianta.
AgendaO quê. Festival Eletronika + Vivo art.mov - Mostra Audiovisual
Quando. De 12 a 20 de novembro
Onde. Cine Humberto Mauro
Quanto. Entrada gratuita
FOTO: AMOR MUÑOZ/DIVULGAÇÃO
Obra de Amor Muñoz baseia-se em circuito ativado por bafômetro
ARTES VISUAIS
Instalações assumem ruído como linguagem
Apresentadas a partir de diferentes estratégias e suportes, boa parte das instalações que vão ocupar a Galeria Mari’Stella Tristão podem, segundo o curador Lucas Bambozzi, ser tratadas como obras que exploram a permanente possibilidade de romper a pureza do universo digital.
"Muita gente tem se interessado pelos ruídos que se pode produzir por meio de procedimentos digitais", analisa ele, que cita como exemplo um dos trabalhos da artista mexicana Amor Muñoz.
"Trata-se de um bafôme-tro, que ela chama de alcoolímetro e se monta sobre uma superfície plana, como uma pintura. É o sopro do visitante que vai causar o ruído, em uma referência a um tipo de interação muito comum nos dias de hoje", comenta.
"Espaço Preso", de Mello+ Landini, por sua vez, apresenta-se como uma proposição espacial em que os movimentos do público produzem rastros sonoros. "É uma grande metáfora dos nossos hábitos e esforços sociais", sintetiza Janaína Mello.
AgendaO quê. Festival Eletronika + Vivo art.mov - Exposição
Quando. De 12 a 27 de novembro
Onde. Galeria Mari’Stella Tristão
Quanto. Entrada gratuita
FOTO: SAMUEL ESTEVES/DIVULGAÇÃO
Entre as influências de Objeto Amarelo estão John Cage e a Tropicália
MÚSICA
Múltiplas apropriações de recursos eletrônicos
Ainda que o nome sugira o contrário, o Eletronika sempre contou com atrações que ultrapassam a noção que geralmente se tem em relação à música eletrônica. Na visão de Maurício Takara, que se apresenta no festival com o SP Underground e assume parte da curadoria nacional do evento, essa visão expandida responde a uma tendência maior.
"Pelo menos desde os anos 1990, a música eletrônica vem se misturando muito com outros estilos. Hoje em dia, aliás, é muito difícil identificar o que é eletrônico e o que não é, assim como não é tão simples prever que tipo de formação vamos encontrar sobre o palco", analisa Takara.
Em relação às duas noites nas quais assina a curadoria, o músico adianta um pouco do que se pode esperar. "Enquanto a primeira noite, com Objeto Amarelo e Test, tende ao experimental, a segunda, com Psilosamples e Elo da Corrente, promete ser bem dançante", prevê.
AgendaO quê. Festival Eletronika + Vivo art.mov- Shows
Quando. De 16 a19 de novembro
Onde. Salas João Ceschiatti e Juvenal Dias, Foyer e Grande Teatro do Palácio das Artes
Quanto. Grátis a até R$ 60